No alarms. No surprises. Please.
Já faz um ano mais ou menos que eu escrevi sobre Karma Police do Radiohead, e disparadamente foi o texto que mais rendeu visitas ao blog. Segundo o Google Analytics, foram aproximadamente 490 visitas vindas do google por palavras chaves como "interpretação Karma Police", "comentários acerca de Karma Police", "karma police crítica". Isso me deixa um pouco tenso para falar de novo sobre as composições de Thom Yorke e sua banda, criou-se uma responsabilidade, ainda mais se eu for falar de um outro clássico da banda, a linda NO SURPRISES.
O que dizer sobre uma música onde a primeira frase é "Um coração que se encheu como um aterro sanitário"? Impactante? Bem, como já dito no blog, o album OK COMPUTER surgiu no cenário da música para impactar mesmo, para destruir os poderosos, para chocar os submissos. Eu não sei qual é a relação das pessoas ao ouvir uma frase desse tipo, mas será que ninguém se mobiliza para rever aonde está levando a sua vida? Seu coração está se enchendo de amor (o necessário) ou de lixo - como um aterro sanitário?
"Um trabalho que te mata lentamente", "Um machucado que nunca cicatriza", "Um aperto de mão no monóxido de carbono". Essas frases são apenas exemplos do que corre dentro da canção, e todas elas tentam lutar contra uma só situação: o conformismo. E seguindo o conceito do album, um conformismo com as atitudes do governo, é claro. Nessa canção é até dito claramente "Derrube o governo, eles não falam pela gente!", algo até inesperado de uma banda repleta de simbolismos e metáforas. O que o governo pede está no refrão da canção, a famosa frase "Sem alarmes e sem surpresas, por favor", e obedientemente, a população dá a sua resposta: "Silêncio. Silêncio." A vida é um caos, existem pessoas pisando na gente, mas estamos conformados. Silêncio.
Essa análise pode até parecer agressiva, mas no fundo, é isso o que o Radiohead nos propoem. E mais do que isso, dentro da arte musical. Para demonstrar agressividade eles não precisam de guitarras destruidoras, de visuais revoltados, de uma música barulhenta. Se você ouvir No Surprises vai se deparar com uma melodia calma, com toques que se assemelham a uma canção de ninar, um embalo relaxante e um piano sedativo (quem disser que nunca ouviu o riff de piano dessa música deve estar enganado, aliás). E essa calmaria dentro da canção misturada a sua letra caótica inverte os sentidos, inverte os signos, inverte nossa cabeça. Afinal, No Surprises mostra que a calmaria não vem depois da tempestade, pois vivemos em um mundo onde tentamos ficar calmos durante a tempestade.
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*um feliz ano novo para todos! :)